quinta-feira, 11 de junho de 2009

E o "Oboé" renasce das cinzas!

Depois, de algum período sem posts, o "Toque Oboé" vem com seu velho ritmo de diálogos com a música, cinema, opinião, listas e outras coisas.


Mas, como sempre, por que não voltar com poesia, né?



João

Levantou depressa, fez as malas, e a partida,
Benzeu-se com água, e não se esqueceu da fé,
Tomou um gole daquele café, que era água
Foi-se num caminho, perdido, e a pé.

Foi quando o viram por uma rua do outro lado,
Perceberam que não o tinham, e era fim
Levou somente um casaco e um guarda chuva
E atrelado as suas contas, lhe diziam,
Se faz um homem sem sua alma, enfim.

Ao passar por bares, e moléstias e meninas,
Só o lembrava da saudade que sentia,
Sentia fome, sentia frio, sentia, e não sentia,
E nem parava nas livrarias que via.

Tornou-se mágico e criou um sonho,
Que fosse feliz e que visse o mar,
E que se fizesse de um tabaco,
O sorriso e o gosto de se amar.

Fumou ou maços, as palavras, e as vergonhas,
Levou-se mais uma vez a suas análises,
Parou de andar como bêbado, sem laços
E resolveu sofrer de novas catálises.

E deu o braço ao momento ofegante,
Que se perdia ao conhecer outras mulheres,
E que fizera o sentir um prazeroso,
Que das cartilhas lhe esquecia o que fizeres.

De toda forma ainda entristecia,
E se perdia ao canto dessas velas,
E mal andava, e nem podia,
Mas continuava a vagar por suas ruelas.

E questões o ascendiam depressa,
Que entoavam toda uma magia,
E se alguém batesse a sua porta,
Ele só fingia que esquecia.

João era deixado para trás,
Por ele mesmo que não sentia mais,
Só era como alguém que vagava,
E bebia, e fumava e vivia.

E não se fez homem por completo,
Só esperava o sol do meio-dia,
E enquanto lia, se abraçava ao espelho,
Não era mesmo aquilo que dizia.

Ah, eu tenho preço, e bem caro,
Levava ao braço o seu livro preferido,
Guardou as cartas em uma caixa,
E deixou as mágoas em um processo deferido.

Lançou-se n’água em um dia de domingo,
Colheu as flores que precisava respirar,
Deixou seus lábios úmidos com as lágrimas,
E percebeu que era hora de chorar.

Chegou o tempo, e com despedida,
Achou que era hora de terminar,
Largou-se ao chão em meio a prantos.
Deixou a vida, e não nos deixou desanimar.

Foi um carro, que havia parado na rua,
Passou João, a florista e uma criança,
Passou as dores, as infâncias e carinhos,
Mas restou um eco e também uma esperança.

Um disse tinha dito que amava o outro,
E que do outro não se desprendia,
“Somos todos, sem querer, exclusivistas”,
E mostrou o racismo que entendia.
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Moisés Corrêa
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Gostaria de agradecer à cantora Anna Luisa e ao compositor/músico/cantor Chico Buarque na inspiração desse poema [mesmo que de forma indireta, é claro].
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E vamos ficando por aqui!
Mas voltaremos breve, breve.
:P